A Escola de Educação Básica (EEB) Gregório Manoel do Bem, em Laguna, desenvolveu nos dias 23 e 24 de novembro um projeto que resultou em 17 oficinas. A intenção era ensinar sobre cultura, sustentabilidade, história, meio ambiente e outros assuntos. A cultura em si acabou sendo a açoriana, pelo envolvimento que a escola tem com o tema.
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Uma das pessoas envolvidas no projeto foi a gestora escolar Adriana Araujo Leal. A profissional conta que é normal o envolvimento em grandes iniciativas. “A escola tem uma série de projetos contínuos que são elaborados a partir de uma pesquisa de campo com alunos e moradores que fazem parte do distrito ao qual a escola está inserida”, explicou ela.
“São sete comunidades que formam o distrito de Ribeirão Pequeno. A escola se localiza em meio a cachoeiras, rios, lagoa, mangue (o maior e mais rico do Brasil) e foi colonizado por açorianos. Essas informações foram importantes para o desenvolvimento dos projetos da escola”, por conta disso é que a cultura açoriana esteve presente nas 17 oficinais.
Tanto que, de acordo com a docente, um dos temas foi a história da colonização dos açorianos, além de outras que falavam, por exemplo, sobre à pesca e a agricultura, que são profissões que sustentam muitas famílias na região.
O aprendizado em sala de aula
Para quem acha que a instituição ensina apenas por meio de projetos ou atividades, está muito enganado. Adriana fala que os assuntos são abordados na rotina. “Os alunos trazem os assuntos que fazem parte da nossa realidade, do cotidiano ou das histórias das famílias“. falou a gestora.
A partir daí, o assunto é socializado com os professores e os colegas. Dependendo do tema, é feito uma seleção, votação e a partir do escolhido os estudantes e educadores fazem pesquisas até chegar no desenvolvimento do projeto. O formato é feito por: justificativa, objetivo, público-alvo e investimentos necessários. Após isso, é apresentado à equipe gestora e analisado com os professores.
A escola e a cultura açoriana
Apesar de estudarem na sala de aula e criarem projetos, a ideia de olhar para os açores, meio ambiente e sustentabilidade tem relação com a história da EEB Gregório Manoel do Bem. Adriana explica que a escola está inserida em um grande e diversificado laboratório vivo, pois fica na zonal rural e por conta disso, sentem que é obrigação desenvolver nos alunos a consciência ambiental.
“Compreendendo o meio ambiente em sua totalidade e as consequências que certos atos do cotidiano podem causar a ele, e entender que a sobrevivência dos ecossistemas depende de todos nós. Todas as pessoas, desde a infância, já podem ser ensinadas a preservar o ambiente”, fala a gestora.
Ela vê como importante esse cuidado, pois diz que por muitas gerações não havia a preocupação em cuidar da fauna e flora e é justamente por isso que ensinam na prática a preservação.
“Além do meio ambiente rico na fauna e na flora, temos engenhos de farinha na região trazidos por nossos antepassados e lá são desenvolvidas as aulas sobre a produção da farinha de mandioca, receitas com os quitutes, como funciona o engenho, os instrumentos utilizados. Temos a parte pesqueira com todas as pesquisas e informações da pesca”, conta a docente.
As oficinas desenvolvidas
Ao todo, a escola desenvolveu 17 oficinas, sendo elas: horta escolar, horta florestal, abelhas sem ferrão, aquaponia cisterna, minhocário, contação de lendas da região, trilha ecológica na cachoeira, dinossauros, escavações, sala das sensações, o engenho de farinha, a fazendinha, casa da dindinha, cores da terra, papel reciclado, porto pesqueiro e mangues.
A casa da dindinha é uma das oficinas mais antigas da escola, com 22 de anos, criada pelo ex-professor de história Laércio Vitorino de Jesus Oliveira. Adriana fala que o projeto deu tão certo que foi construído um museu açoriano dentro do pátio da escola. Por isso um dos focos é a cultura dos açores.
“É uma casa de barro de pau a pique (construída pelos alunos e professores), mobiliada com móveis antigos como: pilão, roda de fiar, louças, cama, armários, malas, instrumentos de trabalho (pesca e agricultura) e outros mais de cem itens. O objetivo é conhecer a história do Distrito dentro da casa“, explicou a gestora.
Outro projeto antigo, criado em 2012, é o da aquaponia. Ele foi apoiado pelo curso de engenharia de pesca da Udesc de Laguna e trata-se da produção agroalimentar que integra a aquicultura (cultivo de organismos aquáticos) com a hidroponia.
“Nesse sistema, existe uma relação estabelecida entre organismos aquáticos cultivados, microrganismos aquáticos e plantas, onde os nutrientes residuais do cultivo dos peixes são transformados pelas bactérias em produtos absorvíveis pelas plantas que, em conjunto com a luz e uma correta oxigenação das raízes, favorecem o desenvolvimento dos vegetais”, explicou Adriana.
Outro projeto é a Trilha da Cachoeira. Os alunos sobem a trilha que passa por uma mata fechada e por uma cachoeira. O trajeto é feito por um caminho rico de fauna e flora e acabam saindo por uma gruta.
“Eles pegam sementes de árvores frutíferas e nativas, trazem para a escola, cultivam em caixinhas de leite reaproveitadas e aguardam germinar e crescer, após esse processo as plantas são devolvidas à natureza através de doações, pedágios, plantios (rios, mangues e cachoeiras)”, falou a docente.
Valorização do projeto na escola
É esperado, geralmente, de um projeto grande dessa forma, que ele dê certo e não foi diferente na EEB Gregório Manoel do Bem. Para Adriana, foi muito gratificante a realização, a escola não esperava a dimensão dos projetos, que foram tomando formas em diferentes áreas de conhecimento.
Para ela, eles deram certo e vão continuar dando, já que são contínuos e não param para ser apresentados apenas em um momento, todo ano tem algo novo para se criar e se ver, para descobrir e ficar surpreso.
“A cada ano há um aprimoramento, uma pitada de suspense na contação de lendas, a surpresa de encontrar um esqueleto nas escavações, as crianças correndo na carretilha, o encanto no brilho do olhar de cada criança ao entrar na fazendinha”, falou a gestora.
Ao todos, 12 escolas fizeram parte. Uma delas acabou levando 97 alunos e outra 88. Para a docente, foi algo de extrema alegria e felicidade, já que não esperavam um número tão grande de inscritos.
Por fim, ela diz que os verdadeiros protagonistas dessas oficinais foram os professores e alunos, que dedicaram seu tempo, desde o início do ano letivo, para escolher um tema, e ir atrás de tudo que fosse necessário.”Fomos além de tudo o que foi sonhado juntos, que alegria, que felicidade a nossa!”, falou Adriana.