E se um gesto de solidariedade mudasse tudo? Balneário Gaivota é um pequeno município praiano que fica próximo à divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Entre seus dez mil habitantes, dois garotos se destacaram e emocionaram a cidade com uma atitude cheia de honestidade e compaixão.
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Alunos da Escola de Educação Básica (EEB) Praia da Gaivota, Guilherme da Rosa Crippa, 11 e Nicolas Bitencourt da Silva, 10 decidiram que seria uma ótima opção para o fim de tarde de uma segunda-feira ensolarada passear de bicicleta pela cidade, como já tinham feito tantas outras vezes.
O final de semana anterior tinha sido muito movimentado, milhares de banhistas chegaram à cidade para aproveitar a praia. Balneário Gaivota tem a fama de multiplicar sua população nos dias de sol.
Conversando sobre a vida, Guilherme e Nicolas andavam, até que foram atraídos para um montinho de areia no canto da beira-mar. Neste momento tiveram a descoberta: uma carteira.
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Nicolas, ainda tentando tirar toda a areia que a cobria, foi mostrando ao colega o que encontrava dentro do objeto. Documentos de identidade, cartões de crédito, de lojas, uma foto de família e R$ 3mil em dinheiro vivo.
E agora?
Guiados por um instinto de honestidade e empatia que aprenderam desde cedo em casa e na escola, os dois garotos saíram pelos restaurantes mais próximos, perguntando se alguém conhecia o dono da carteira, que, com certeza, estaria dando falta do local onde guardava seus pertences.
Quando atravessaram a rua, encontraram o início da descoberta. Não o dono, mas um homem que o conhecia. Segundo ele, era um rapaz que trabalhava com madeira. Guilherme e Nicolas acreditaram. Deixaram a carteira ali, com a esperança de que chegaria em seu destino final. Um pouco receosos em somente entregá-la, os dois acompanharam todo o processo. No dia seguinte, a carteira foi entregue.
“Como eu iria pegar o dinheiro do homem para mim, se aquela poderia ser a única opção de compras no final do mês?”, questiona Nicolas.
Muito emocionada com a atitude dos meninos que acompanha desde o 1° ano do Ensino Fundamental, a assistente Jaqueline Machado também se sente responsável por eles.
“Nós vemos eles crescerem, conhecemos os pais, os avós, suas histórias. Senti algo muito forte ao perceber que o Nicolas entendia a consequência de suas ações. Agora, na pandemia, eu só pude cumprimentá-los com um soquinho na mão, mas a minha vontade era de dar um abraço muito forte”, conta.
O papel da escola
Durante o mês de Novembro, na sala do 5° ano – onde Guilherme e Nicolas estudam, a professora Ednéia da Silva Machado trabalhou questões de cidadania, direito e deveres. Para ela, a ação de seus alunos mostra o poder da educação em atitudes cotidianas, não somente entre as paredes da escola.
“Ficamos emocionados, pois trabalhamos vários conteúdos em sala de aula e quando vemos eles sendo aplicados na prática, traz uma sensação incrível de dever cumprido. Eles levam o que aprendem aqui para fora”, diz a professora.
Atitudes como a de Guilherme e Nicolas precisam ser celebradas. Além de terem feito o que é certo, os dois garotos inspiraram em colegas, professores e vizinhos o espírito real de comunidade. Balneário Gaivota, com certeza, terá em suas futuras ações, moradores mais conscientes, honestos e justos.