Qual é a voz do nosso país? O vocabulário é o reflexo da cultura brasileira. Está nos gestos, na memória, na história e nas expressões verbais e não verbais que carregam a trajetória do nosso povo ao longo de séculos de luta e resistência. Nas palavras, os ângulos de como era a realidade do Brasil são alargados com contribuições africanas e indígenas.
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Com o intuito de recuperar essa parte da história – muitas vezes esquecida, a professora de História da Escola de Educação Básica (EEB) Santa Marta, Aline Mendes Lima, criou uma atividade para descobrir a origem de algumas palavras da Língua Portuguesa.
Apesar de ser obrigatório desde 2003 o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, essas temáticas ainda passam entre os livros didáticos carregadas de estereótipos e não protagonismo. Aline quis mostrar diferente.
“É importante trazer a história e a cultura afro e indígena como forma de valorização e reconhecimento da importância desses sujeitos para o Brasil. É também uma oportunidade de trabalhar a valorização dos estudantes que fazem parte ou são descendentes de grupos que durante muito tempo foram pouco vistos nos materiais didáticos”, conta.
Impacto nos alunos
A atividade foi um sucesso. Juntos, professora e alunos redescobriram o significado de dezenas de palavras que já faziam parte de seu dia a dia, mas que nunca tinham prestado atenção em suas raízes africanas ou indígenas.
Rafael Silva, aluno do sexto ano, agora enxerga o estádio Maracanã, palco de diversos jogos importantes de futebol, como uma ave. Maracanã significa arara na língua tupi. Descendente de indígenas, o menino encontrou na atividade proposta por sua professora a vontade de valorizar essa cultura.
“Não percebemos que a cultura indígena faz parte do nosso dia a dia. Eles são nossos ancestrais, minha tataravó era indígena. É muito importante preservarmos essa parte de nós. Os indígenas foram os primeiros habitantes do Brasil, muito tempo antes dos portugueses chegarem”, expressa Rafael.
Redescobrindo conceitos
No sétimo ano, o conceito trabalhado foi “Ubuntu”. Original nos dialetos Zulu e Xhosa – Línguas Bantu do grupo Ngúni, faladas pelos povos da África Subsaariana – a palavra é mais do que apenas um conjunto de letras, é uma filosofia de vida: eu sou porque nós somos. Quem vive o Ubuntu sabe que ser humano significa coletividade, compaixão, partilha, respeito e empatia.
Isabella Alfredo Bitencourt, 16, ficou interessada na proposta de Aline desde o começo. Com o trabalho aprendeu o significado de várias palavras que usava diariamente e sua origem vinda da África, com a diáspora.
“Mesmo sendo palavras que eu conhecia, não imaginava que havia tantas reinterpretações. Cada povo tem sua cultura e uma forma de usar as palavras com um significado diferente, portanto pude compreender como o nosso país tem essa diversidade de palavras em nossa cultura de origem africana”, diz.
A linguagem sempre foi um instrumento de leitura do mundo, expressão do indivíduo para si e para o outro, identificação de uma pessoa como membro de uma comunidade. Ao expor as palavras de origem africana e indígena na Língua Portuguesa, reconhecemos a história dessas populações dentro do solo e cultura brasileira.
Mês da Diversidade Cultural
Durante todo este mês de novembro, o Educa SC apresenta uma série de conteúdos no canal e no portal para falar sobre a Diversidade Cultural e importância de discussão sobre o assunto nas escolas catarinenses.