A Fuvest é conhecida pelo seu vestibular para ingressar na USP (Universidade de São Paulo), e a partir de 2026, pela primeira vez na história, o exame vai contar com uma lista de leitura obrigatória com obras escritas só por mulheres, para os futuros inscritos.
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As escritoras brasileiras e estrangeiras que farão parte da lista, são: Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida, Lygia Fagundes, Narcisia Amália, Nísia Floresta, Paulina Chiziane, Rachel de Queiroz e Sophia de Mello Breyner.
A Fuvest afirma que a renovação é necessária no sentido de valorizar o papel das mulheres na literatura, não apenas como personagens, e sim como as autoras talentosas que são.
A atitude da Fuvest é essencial nesse processo de desconstrução do estereótipo de gênero implantado em cima da mulher dentro da literatura brasileira, onde observamos que nesse espaço, a mulher é vista como vulnerável e é totalmente descredibilizada.
Prova disso é uma das barreiras que as escritoras enfrentam: a falta de publicação das histórias que produzem. E até mesmo quando a obra é publicada, muitas das vezes elas são desacreditadas.
Conheça a trajetória de mulheres na literatura brasileira
Quando pensamos em quantas publicações de mulheres lemos nos tempos recentes, quantas nos vêm à cabeça? Talvez uma, no máximo duas. Isso porque as mulheres têm menos chances de serem publicadas do que os escritores brasileiros homens.
Segundo o VIDA Count – Women In Literary Arts, uma organização sem fins lucrativos que quantifica a porcentagem de mulheres com resumos publicados nos jornais em circulação nos EUA, apenas dois deles tiveram 50% ou mais obras de mulheres divulgadas.
Essa é uma realidade triste, principalmente quando falamos sobre os sentimentos que a mulher enfrenta por trás disso tudo. Muitas autoras evitam usar os seus nomes completos e reais por acharem que os seus livros serão menos vendidos, em comparação às obras escritas por homens.
Essa ação é conhecida como pseudônimos, onde a pessoa usa um nome fictício como alternativa ao seu nome real. Tudo começou quando as publicações escritas por mulheres eram vistas como uma forma de transgressão.
Essa visão se deve ao papel que a mulher era obrigada a exercer antigamente, o do lar. Qualquer atitude que a figura feminina tinha que saísse dessa linha doméstica, era mal vista por toda a sociedade.
Existe um machismo que é potente e foi construído lá atrás, mas que com certeza é muito presente na sociedade, e um grande exemplo é sobre o espaço da mulher e do homem na literatura.
Além disso, era raro algum editor publicar um livro escrito por uma mulher. Como vimos acima, essa é uma ideia vista como transgressora e os livros vendiam muito mal, já que o público leitor não acreditava no poder intelectual feminino.
O estereótipo criado com base nos estilos femininos de escrever
Esse é um dos grandes motivos de muitas pessoas não comprarem literatura brasileira escrita por mulheres. Pois, ainda hoje, há quem diga que as mulheres só escrevem livros sobre amor, romances e com finais dramáticos. E esse é um dos preconceitos mais antigos da humanidade.
Cada autora é marcada por um estilo de escrita diferente, e muitas vezes são histórias reais, baseadas em suas próprias vivências. Com isso, já dá para notarmos que a escrita feminina vai muito além de romances.
Que tal ler um livro escrito por uma mulher?
Apesar de todas essas dificuldades enfrentadas pelas mulheres da literatura brasileira, de pouco em pouco, em um processo árduo, o mercado editorial vai devolvendo o espaço que foi tirado dessas mulheres.
Em contrapartida, como as mulheres não esperam sentadas, muitas vezes elas mesmas já publicaram as suas próprias obras. E muitos movimentos para acabar com essa exclusão feminina começaram a surgir, como é o caso do Leia Mulheres, que começou em São Paulo e tem como proposta divulgar as obras das escritoras.
E claro que, atrelado ao machismo, sempre vem outros tipos de preconceitos que as mulheres enfrentam. E por isso, um outro movimento tem uma proposta mais específica ainda.
O clube Lendo Mulheres Negras, criado em 2016, tem como objetivo não só combater o machismo, mas também o racismo entre as publicações atuais. Além de proporcionar esse espaço para a divulgação das escritoras, o clube também dá espaço para que as mulheres negras tenham as suas publicações valorizadas e lidas.
A mudança começa com a consciência, e esperamos que após finalizar essa leitura, você escolha alguma autora que citamos no texto e leia! Um dos desafios que as escritoras da literatura brasileira ainda enfrentam é ter o seu trabalho reconhecido, e a iniciativa da Fuvest vai auxiliar muitas escritoras nesse sentido, e você faz parte disso.