As mulheres ainda são minorias nos esportes radicais, mas essa realidade está ficando para trás. No município de Timbó, no Vale do Itajaí, a estudante Liandra Heimann, 17, da terceira série do Ensino Médio da Escola de Educação Básica (EEB) Professor Júlio Scheidmantel venceu o Campeonato Panamericano de Downhill, em primeiro lugar na categoria Júnior.
O campeonato ocorreu nos dias 24, 25 e 26 de setembro, em Sapiranga, região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para a jovem, ganhar uma medalha representando o Brasil no Campeonato Panamericano de Downhill foi a realização de um sonho.
“É uma sensação incrível, não tem como explicar com palavras a quão feliz e grata eu estou. Sempre sonhei com esse dia e, quando ele chegou, nem parecia ser verdade. Demorei quatro dias para me dar conta de que eu realmente tinha sido campeã”, conta Liandra.
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Esporte radical
O Downhill, em português descida de montanha, é uma das modalidades do Mountain Bike, um esporte radical que surgiu na Califórnia, ainda na década de 70. Nessa modalidade, os ciclistas precisam descer, o mais rápido o possível, um determinado percurso cheio de obstáculos e irregularidades.
Os trajetos das provas costumam ser muito íngremes e repleto de desafios: terrenos acidentados, pedras, galhos de árvores, buracos, pontes, raízes, lama, entre outros. As pistas, geralmente, são muito rápidas e os ciclistas podem atingir velocidades de até 80 km/h.
Praticante desde 2016, Liandra conta que a paixão pelo esporte foi incentivada pela família. “Meu pai começou a pedalar profissionalmente e eu ia junto. Decidimos participar de uma corrida, só para ver no que ia dar, e já vim para casa com um segundo lugar. Desse dia em diante nunca mais parei”, relembra.
As bicicletas utilizadas em competições de Downhill possuem algumas diferenças dos modelos de passeios, como adaptação para o uso em trilhas de terra, pneus mais largos e travas mais potentes. O estilo das bikes chamou a atenção da estudante.
“Sempre gostei muito de andar de bicicleta e com o passar do tempo vi que era mais do que um simples hobby, eu sempre achava as bikes de Downhill muito lindas e hoje posso ter orgulho de ter uma”, conta Liandra.
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Paixão que vem de casa
Anderson Heimann, pai da estudante, relembra a emoção que sentiu quando viu a filha subir ao pódio do Campeonato Panamericano de Downhill. “Eu tento estar presente o máximo possível nas corridas, mas essa teve um gostinho especial. Campeã panamericana é para poucos, ainda mais para menina, que é muito mais difícil tanto no incentivo quanto no patrocínio” comemora.
Por se tratar de um esporte radical, com público alvo majoritariamente masculino, Anderson revela que no início teve receio pela filha. “É um esporte muito perigoso, o coração sempre fica na mão, toda descida é sempre aquela angústia total, mas sempre deu certo. Às vezes não dá, às vezes acontece uns tombos, mas isso é normal, dentro do esporte é tudo normal”, brinca.
Representatividade feminina
Além de ultrapassar os obstáculos encontrados pelo caminho no trajeto da prova, a estudante Liandra Heimann atravessa também as barreiras do preconceito e prova que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive praticando esportes radicais.
A jovem se inspira na atleta de Mountain Bike Mariana Salazar. A salvadorenha ganhou em 2014 uma medalha de ouro no Campeonato Panamericano de Mountain Bike (MTB), que ocorreu em Barbacena, na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais.
Agora, a jovem ciclista se prepara para o Campeonato Brasileiro de MTB que será realizado em novembro. “Já treinei com muitos profissionais da área, mas no momento eu que faço meus treinos sozinha, só eu e a bike. Agora o foco está totalmente para o campeonato brasileiro, pretendo me tornar campeã também”, ressalta.