Mais do que compreender as questões históricas e aquilo que está nos livros, existem datas que trazem para o cotidiano debates que fazem parte da educação. Tendo como ponto de partida o Dia da Consciência Negra, os alunos da Escola de Educação Básica (EEB) Maria Corrêa Saad, em Garopaba, deram início ao projeto “Vozes Negras”, focado nas declarações e depoimentos da comunidade negra.
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A iniciativa foi da professora de geografia Luciana Vieira. Tudo começou com a ida ao auditório e uma frase da filósofa Djamila Ribeiro (precisamos romper com os silêncios). Foi lá que uma das alunas decidiu contar um pouco dos desafios da comunidade negra, expondo a própria visão sobre o assunto.
“Ana Laura deu uma aula sobre o tema contando sua trajetória de vida por meio de uma narrativa real e impactante. Foi lindo! E aí resolvi que essa história não poderia ficar em quatro paredes, daí surgiu o “Vozes Negras”, conta a professora.
Com o intuito de dar notoriedade para aqueles que entendem do assunto, a profissional convidou os estudantes negros do Ensino Fundamental e Médio para uma nova conversa. No primeiro momento, 12 pessoas demonstraram interesse.
“Na data marcada, montamos um palco no pátio da escola e todas as turmas por período foram chamadas para a escuta. O objetivo é dar o direito de lugar de fala aos estudantes negros”, declara a educadora.
Mais do que ir de encontro com uma data específica ou com aquilo que está na Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” em sala de aula, o momento é uma oportunidade de ensinar e aprender.
“Precisamos reconhecer na escola todas as identidades, dar voz e visibilidade aos estudantes que sofrem no cotidiano da vida escolar com o racismo e preconceitos. Temos como referência nosso Currículo do Território Catarinense que traz a diversidade como princípio formativo, e a escola sendo um lugar de ciência e um espaço social, tem o compromisso e a responsabilidade com a temática”, opina Luciana.
Por mais que o encontro tenha sido pensado para a comunidade negra, os demais estudantes e profissionais participaram, atentos aos relatos e falas. Os professores também estiveram envolvidos na montagem do espaço — seja organizando o palco ou equipamentos.
A ação que nasceu com o objetivo de trazer para a sala de aula um assunto que faz parte da rotina de muitos, também foi uma oportunidade para desenvolver o ensino partindo de uma outra visão, do ponto de vista de quem vivencia — era visível a resposta da turma.
“Foram reações espontâneas, de muita atenção, perguntas e choros. Uma realidade exposta pelos seus próprios colegas deixou a todos reflexivos e sensíveis à causa. Muitos que não se inscreveram para a fala sentiram reciprocidade nos depoimentos feitos, se identificaram”, finaliza a professora.
Números da comunidade negra em Santa Catarina
De acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, apenas 3% da população catarinense se declara negra no Estado. Entretanto, levando em consideração os dados do censo de 2010, mais da metade dos brasileiros se declaram pretos ou pardos.