“Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços; é transportar às almas que o Senhor nos confiar, à força insuperável da Fé.”
Este foi parte do discurso proferido pela Deputada Antonieta de Barros na ocasião da promulgação da Lei de nº145, que instituiu o Dia do Professor, em 1948.
Em 12 de outubro de 1948, a então deputada instituiu, no dia 15 do mesmo mês, o Dia do Professor, para que os educadores passassem a ser vistos na sociedade como um dos principais agentes de mudanças no Brasil. Após 20 anos, o Presidente da República – na época, João Goulart – estendeu a data para toda a nação.
A luta pela liberdade, igualdade e acesso à educação foram os três marcos de destaque na trajetória de Antonieta de Barros, professora que fez seu nome na história catarinense. Antonieta foi a primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual, em 1935.
“Antonieta de Barros representa uma educadora à frente de seu tempo. Representa também a conscientização sobre a importância feminina, o papel da mulher na sociedade e a necessidade do empoderamento feminino na perspectiva de eliminar a desigualdade de gênero e social”, diz o presidente do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina (CEE), Osvaldir Ramos.
Muitos foram os livros publicados contando sua trajetória, suas lutas e desafios. Em homenagem à Antonieta de Barros, o CEE, em parceria com a Assembléia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), publicou o livro “Antonieta de Barros – Crônicas Selecionadas”. Com 150 páginas, a publicação foi distribuída para as escolas da rede pública de ensino e reúne textos publicados pela educadora e traduzidos para o português contemporâneo.
As crônicas presentes no livro foram originalmente publicadas entre 1929 e 1952 nos jornais “O Estado”, “O Idealista”, “República” e “Folha Acadêmica”. “Antonieta de Barros é uma referência fantástica para todos nós catarinenses. Tenho certeza que a história de Antonieta como jornalista vai contribuir muito com o ensino da disciplina de língua portuguesa, justamente pelo fato de as crônicas estarem agora disponíveis no formato original e no idioma contemporâneo”, destaca Ramos.
O nascimento de um ícone
Nascida na antiga Destrerro – hoje Florianópolis – em 11 de julho de 1901, Antonieta era filha de Catarina de Barros e de Rodolfo de Barros. O pai faleceu quando ela ainda era criança e Antonieta acabou sendo criada apenas pela mãe, que trabalhava como lavadeira.
Na casa de um político, onde sua mãe trabalhava, Antonieta teve a possibilidade de se alfabetizar. Primeira da família a concluir o ciclo escolar, Antonieta de Barros foi alfabetizada aos 5 anos e concluiu os estudos primários – hoje Ensino Fundamental – na Escola Lauro Müller, em Florianópolis.
Aos 17 anos, ingressou na Escola Normal Catarinense – atual Instituto Estadual de Educação – onde realizou curso equivalente ao Ensino Médio. Aos 21 anos de idade, ela fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, que era destinado à alfabetização de adultos, instituição que dirigiu até essa formação até o ano de sua morte, em 1952.
Quebrando barreiras
Considerada uma das melhores educadoras do seu tempo, especialmente na educação de jovens catarinenses, a educadora atuou ainda como escritora, jornalista e representante política reconhecida.
Seu talento nato para o ofício de educadora rompeu barreiras enraizadas na sociedade catarinense. Contra as probabilidades, lecionou para a elite florianopolitana nos tradicionais colégios Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.
Sua história a favor da igualdade por meio da educação marcou a época, servindo de motivação para meninas e mulheres que possuíam o sonho de chegar onde só ela tinha conseguido até o momento.
Extremamente dedicada aos estudos e sem medo de expressar suas ideias, sua luta pela educação fez com que conquistasse as páginas dos jornais da cidade. Além de professora, Antonieta virou jornalista, escrevendo crônicas para jornais da imprensa catarinense. Escreveu mais de 1000 artigos em oito veículos do Estado.
Suas crônicas disseminavam suas ideias, principalmente aquelas ligadas às questões da educação, aos desmandos políticos, à condição feminina e ao preconceito racial.
Vida política
Na primeira eleição (1934) em que as mulheres brasileiras puderam votar e serem votadas, Antonieta concorreu e foi eleita a primeira mulher negra a ser eleita no Brasil, ocupando o cargo de Deputada Estadual na ALESC. Desde sua vitória, apenas 15 mulheres se sentaram na Assembleia de Santa Catarina, nenhuma negra.
Assim como na educação e no exercício do jornalismo, a passagem de Antonieta de Barros pela política foi brilhante. Lutou ativamente pela educação e direito das mulheres em Santa Catarina.
Com o princípio de que a educação é um direito de todos e o caminho para o futuro, Antonieta de Barros criou o Dia do Professor. Muito mais que apenas uma data comemorativa, o dia 15 de outubro representa o resultado da luta e da vida de uma mulher, filha de ex-escravizados, que sonhava com a educação como caminho para o futuro.
Antonieta de Barros faleceu em 28 de março de 1952, em Florianópolis, e ainda é uma das mais inspiradoras mulheres do século 20.