Imagine uma sala com mais de 30 adolescentes. Com uma mistura de percepções, desejos e objetivos, cada indivíduo é composto por singularidades e características que vão além daquilo que está sendo apresentado na lousa ou nos livros. Em tempos marcados pela instantaneidade e falta de vínculos, a inteligência emocional na escola é um passo importante e que precisa ser dado em conjunto.
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Se de um lado estão os alunos, que sofreram com o isolamento causado pela pandemia, do outro estão os professores, que aprenderam a usar a tecnologia e os mecanismos disponíveis para manter a educação nos meses em que tudo era novidade. Como esperado, o retorno presencial está sendo um desafio para ambos, que precisam aprender a conviver e estreitar os laços.
Além da busca pelo conhecimento, existe um outro diferencial: as emoções também precisam ser avaliadas, levando em consideração as vivências de cada um. Para isso, os educadores precisam de um olhar atento, cuidado que deve começar por si — só assim será possível ajudar o outro.
“O profissional docente é o ser mais importante da existência humana. Ele é o que ensina, contribui para a formação e o desenvolvimento do aluno enquanto indivíduo e membro da sociedade. Não seríamos os cidadãos/profissionais que somos se não fossem eles”, destaca a psicóloga Fabiane Regina Tramm.
Os efeitos da pandemia
Foi o tempo em que o papel do professor estava pautado apenas no ensino dos componentes curriculares. Agora, além de dominar as temáticas, também é importante desenvolver a inteligência emocional na escola, compreendendo a situação de cada pessoa e os problemas que são apresentados no dia a dia.
Mas a irritabilidade vista em sala de aula também pode ser uma resposta aos anos de afastamento. Diante de uma realidade imposta em pouco tempo, o desenvolvimento da educação e das aulas online foi instantânea. Se antes o comum era manter um contato próximo, nos últimos anos a câmera e as telas passaram a fazer parte da realidade, apresentando uma situação inusitada.
“Muitos professores chegaram a Síndrome de Burnout ou síndrome do esgotamento profissional, um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico. Muitas vezes é o afeto convertido em dor física, o que causa danos irreversíveis”, expõe a psicóloga.
E os dados não deixam mentir, já que os números apontam que 32% da população economicamente ativa sofre com os sintomas da síndrome, de acordo com a pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR), realizada em 2019.
Além da lousa e do giz
Para dar conta das novas singularidades e das demandas, o foco não deve estar apenas na turma. O olhar também precisa ser para dentro, compreendendo a inteligência emocional na escola e as percepções que estão sendo ativadas. Partindo deste desafio, o trabalho de Fabiane Regina Tramm tem sido desenvolvido em conjunto com o Núcleo de Educação e Prevenção (NEPRE), pela CRE Palmitos. Palestras para jovens, professores e pais e reuniões com gestores e coordenadores são algumas das iniciativas.
“Achei necessário voltar o olhar para o professor, tanto quanto para o aluno, olhar este de suma importância para ‘cuidar de quem cuida’, atuando nas escolas com a palestra “além da profissão, um olhar para si”, desenvolvendo o emocional/comportamental, trabalhando a energia, o amor à profissão (antes descobrir o amor por si próprio), o autocuidado mental e físico, motivação, o reinventar, resiliência, relacionamento interpessoal (entre colegas, gestão, pais e estudantes), busca por novos conhecimentos e a importância do trabalho em equipe”, explica a especialista.
Os ganhos podem ser sentidos no bem-estar e na saúde mental, instigando uma avaliação simples, mas que acaba sendo deixada de lado na maioria das vezes. Antes de ser professor ou diretor, por exemplo, todos somos seres humanos, com sentimentos e emoções.
Desenvolvendo a inteligência emocional na escola
Para ser capaz de lidar com as situações no ambiente escolar, o cuidado precisa começar fora da sala. “Emoções, inteligência emocional, assunto este de suma importância nos dias de hoje. Conhecer as emoções básicas é o princípio de tudo: a alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa”, elenca a psicóloga.
Porém, o desenvolvimento da inteligência emocional vai além, incluindo outros elementos. “Automotivação, autoestima, autoconfiança, saber se comunicar e viver em sociedade, estar aberto para novos conhecimentos e aprendizados, saber lidar com as frustrações, saber como reagir aos sentimentos negativos, foco nas atividades, pensamento positivo e capacidade para lidar com mudanças são fatores importantes”, complementa Fabiane.
Além da modificação vivenciada pelos educadores, quem está do outro lado também pode ser incentivado. “O corpo docente precisa estar preparado emocionalmente para saber incentivar estas habilidades nos alunos. Praticar a resiliência e a empatia, como aprender a se colocar no lugar do outro, conhecer, reconhecer e aprender a controlar/gerenciar as próprias emoções, sabendo utilizá-las em benefício próprio, para compreender os sentimentos alheios e conseguir criar relacionamentos saudáveis”, descreve a profissional.
9 dicas para aprimorar a inteligência emocional
É fato que cada indivíduo será motivado por determinadas ações, mas existem dicas que podem ser valiosas para todos. Confira algumas indicações da psicóloga Fabiane Regina Tramm que podem melhorar a saúde e a inteligência emocional na escola:
- Pratique atividades físicas;
- Tenha o hábito de ler;
- Durma bem;
- Reserve um dia para a saúde mental (tempo para fazer o que você gosta, seja pintar ou dançar);
- Invista na alimentação saudável;
- Aprenda exercícios de respiração;
- Saiba definir as metas e impor os limites;
- Gerencie o tempo e as tarefas;
- Reduza o uso da tecnologia.
A missão de formar os novos cidadãos é desafiadora, mas o caminho será mais fácil com a inteligência emocional na escola. “Educar é um ato de amor, e para isso precisamos estar abertos a novas emoções, novos conhecimentos, novos aprendizados, sermos resilientes e acima de tudo: amar a vida e tudo o que ela nos proporciona”, conclui a especialista.
Série especial no Educa SC
Com o objetivo de demonstrar a importância do tema e do Setembro Amarelo, o Educa SC dá início à série de reportagens sobre saúde mental. Serão três conteúdos no portal, um podcast e mais a extensão do tema no programa “Educação e Saúde”, quadro semanal que vai ao ar nos canais do Educa SC. O intuito é que você aprenda sobre o funcionamento do corpo, dividindo o conhecimento com o amigo e incentivando as boas práticas em casa e na escola.
Vale destacar: se você não está se sentindo bem, procure ajuda especializada. Converse com as pessoas que estão ao redor e não tenha medo de explicar a situação. Falar e ouvir é um ato de empatia!