Profissionais da área de educação do Estado de Santa Catarina foram convocados pelo Governo Estadual para dois dias de palestras em Florianópolis. O evento teve como principal objetivo, capacitar os profissionais que atuam de frente nos polos de atendimento educacional especializado (AEE) sobre o funcionamento e a metodologia de trabalho a ser realizado junto aos estudantes com transtorno do espectro autista (TEA).
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As palestras ocorreram nos dias 24 e 25 de agosto, e abordaram assuntos como o papel do AEE dentro da escola regular; o papel dos polos de atendimento especializados no autismo; o perfil cognitivo dos estudantes com autismo; as práticas educacionais e a avaliação e plano de desenvolvimento individual.
‘’Hoje a gente se utiliza das práticas que têm evidência científica, o que exige uma atualização constante. Penso que esse curso vai trazer muitas atualizações na análise aplicada de comportamento’’, explica a supervisora de atividades educacionais extensivas da Fundação Catarinense de Educação Especial, Fabiana de Melo Jacomini Garcez.
Segundo Anderson Floreano, coordenador da Educação Especial na Secretaria de Estado da Educação (SED), as escolas têm recebido muitos diagnósticos com o TEA e a necessidade de atendimento especializado para este tipo de aluno. ‘’Conseguir trazer profissionais de todo o Estado para estudar e poder oferecer uma educação de qualidade para esse público-alvo que nós estamos recebendo dentro da escola, é de extrema importância”, explica o coordenador.
E é impossível falar de educação especial sem citar os profissionais que atuam com tanta sensibilidade e amor nos polos AEE e TEA. Os professores saem de casa todos os dias com a alegria e a força necessária para fazer parte da formação desses estudantes que requerem um maior cuidado e acolhimento. A cada dia, eles vivenciam uma rotina diferente e intensa, pois os estudantes agem e reagem de diversas formas no cotidiano escolar.
Um exemplo desse amor é o da professora Francine Menchem, do polo TEA Nereu Ramos, localizado em Joinville. A profissional sempre recorda, emocionada, da aluna Sarah, de 21 anos. De acordo com a professora, Sarah já entrou na escola tardia e teve um diagnóstico tardio também, o que acabou fazendo com que ela fosse reprovada.
“O histórico dela é complicado, porque a mãe também tem uma deficiência, não tendo muita instrução para ajudá-la, dessa forma, a escola teve um papel muito importante no acolhimento, auxiliando mãe e filha nesse processo”, conta Francine.
Histórias como a da Sarah são cada vez mais comuns, já que o autismo vem crescendo significativamente no Brasil. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a cada 36 nascimentos, 1 é de criança autista. E esse é um diagnóstico que, muitas vezes, pode ser tardio, pois a maioria das famílias passam por um longo processo de aceitação.
Falar sobre autismo não é falar apenas sobre a inclusão desses estudantes, como muitos pensam, pois eles já estão incluídos na sociedade como um todo. Falar sobre autismo é muito mais do que isso.
“As pessoas com deficiência (Pcds) fazem parte do grupo e, para a formação do sujeito, a sociedade tem que compreender que todos nós temos direitos iguais, independente do que somos ou como somos. Hoje a escola é para todos, e daí vem a construção de uma educação diferente, com seres humanos diferentes, pois desde a infância eles aprendem a respeitar a diversidade que estão com eles’’, explica Roberta Rita Cardoso Silva, gestora da Escola de Educação Básica Professor João Martins Veras, de Joinville.
E é justamente baseado nesse pensamento que é desenvolvido o trabalho na Escola. Por lá, alunos atípicos e típicos estudam nas mesmas salas de aula. “A educação especial visa a inclusão de todos, e o acesso para todos, não existe a segmentação, existe o trabalho da escola como um todo”, conclui Roberta.
O trabalho que os professores da Educação Especial realizam requer, além de amor, a compreensão de que cada estudante autista vai precisar de um nível diferente de apoio, tendo em vista que cada um deles possui um nível de diagnóstico, desde o leve até o severo.
A assessora do AEE/TEA, Sandra Mara Pires, conta que a experiência que mais marcou o seu trabalho com alunos autistas foi a de um aluno de 11 anos, que tinha muita dificuldade de interação e em outras escolas onde havia estudado, costumava permanecer apenas 45 minutos e sempre do lado de fora da sala de aula.
‘’Logo nos primeiros meses, quando chegou na nossa escola, já conseguimos ver um avanço, pois ele conseguia ficar mais tempo conosco. No meio do ano ele já conseguiu ser inserido dentro da sala de aula. Foi um desafio, mas ao mesmo tempo nos sentimos felizes por ele já estar na sala, socializando com os outros e realizando as atividades passadas pelos professores’’, conta Sandra.
Além da capacitação, o encontro proporcionou aos profissionais a oportunidade de trocar ideias, ampliando seus conhecimentos na área da Educação Especial. Conhecimento que deve refletir dentro da sala de aula, com uma educação mais adequada à realidade das escolas.