O mês de novembro marca a celebração da Consciência Negra, que representa as conquistas e lutas pelo fim do racismo estrutural no Brasil. Um país marcado por quase 350 anos de escravidão e pelo tráfico das populações negras da África, precisa levantar questões para serem discutidas, a fim de combater o racismo estrutural perante tamanha desigualdade social tão enraizada na sociedade brasileira.
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A Consciência Negra abrange vários pontos dentro dessa luta contra o racismo, sendo um misto de conscientização da importância do preto na sociedade, do reconhecimento do valor dos mesmos, da cultura e da luta dessas pessoas que não se calaram e continuaram na caminhada para combater esse crime.
O principal ponto para tal realidade, para além do viés da desigualdade social, é o papel da subalternidade que sempre foi atribuído à população preta. Ou seja, os brancos sempre se sentiram acima dos pretos, simplesmente pela cor do outro e pelas estruturas sociais presentes.
Olhando e observando essa realidade, apontamos que não ser racista não é mais o suficiente, é necessário seguir rumo a uma educação antirracista, unindo assim as ações de cada um para lutar contra o racismo em todas essas estruturas presentes na sociedade.
A importância das discussões sobre o racismo nas escolas
A luta contra o racismo comprova a importância de levantar discussões nos dias atuais, quando ainda nos deparamos com os dados da desigualdade racial que persiste no Brasil. Segundo o IBGE, em 2020, a população negra representava 56%, porém, a taxa de desemprego entre os negros é mais alta, a renda média é menor e o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, é muito desigual.
E por isso, é crucial que dentro das instituições a lei n°11.645/2008 seja aplicada, pois ela torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena no Ensino Fundamental e Médio de todo o Brasil.
Acreditamos que é a partir do conhecimento que nos formamos como cidadãos, e é a partir dos mesmos, que conseguimos levantar discussões a fim de conscientizar a sociedade como um todo. A mudança começa pelo conhecimento, que nos torna mais conscientes!
A urgência da educação antirracista
Em 2021, o Núcleo de Pesquisa do Instituto de Ciências pela Infância (NCPI) realizou uma pesquisa mostrando o efeito do racismo estrutural no campo e no cérebro das crianças brasileiras negras de até seis anos. Com o levantamento das pesquisas feitas, foi comprovado que o racismo impacta o desenvolvimento infantil de forma muito forte.
Tais formas alteram a autopercepção de cada criança, a autoconfiança, a saúde física e a mental, as oportunidades para adquirir habilidades e conhecimentos, o acesso a direitos de moradia, saneamento básico, saúde e até mesmo na socialização dos aprendizados.
Com isso, é preciso firmar uma educação antirracista, onde os alunos possam compreender as relações entre os conceitos de branquitude, privilégio branco, colorismo de cada ser. Desta forma será possível identificar as estruturas sociais que abarcam a sociedade, e como essas estruturas perpetuam na racialidade de cada um.
É crucial que exista essa interação constante entre os estudantes de diversas identidades culturais, favorecendo assim, a força para a luta e a superação dessas estruturas que geram a discriminação racial e a exclusão.
Como aplicar a educação antirracista nas instituições?
Para desenvolver a educação antirracista, é necessário que qualquer educador, independentemente da sua raça/etnia, reflita sobre o seu lugar de fala. Quando se fala sobre o lugar de fala, o objetivo não é calar alguém, e sim avaliar a sua posição nas relações de poder da sociedade.
Isso porque, ao observar esses marcadores sociais, tais como raça, gênero, classe, geração e sexualidade, é possível identificar a influência de visões de mundo. E com plena consciência disso, da sua própria identidade, é possível desenvolver todo o processo necessário para a educação antirracista, pois não é apenas um conteúdo, e sim uma relação.
Outro ponto importante é entender que o racismo não é algo do passado, da época colonial brasileira, ele está constantemente presente e em reformulação. Sendo necessário reconhecer, refletir e desconstruir formas de pensar e agir que foram neutralizadas.
O terceiro ato é a necessidade de zelar pelo cuidado de todos, mediando os conflitos que possam vir a surgir dentro das salas de aula. Existem muitas violências que são tidas como comportamentos normais das crianças, daí vem a importância do educador ter acesso a uma formação complementar sobre o tema, para que ele tenha consciência e possa identificar e agir.