Antonieta de Barros: na luta pela educação e direitos de raça e gênero

Professora, jornalista, deputada. Antonieta de Barros foi a primeira mulher negra a ser eleita no Brasil; conheça sua história

Formação Publicado em: Autor: Júlia Duvoisin

“A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação”, escreveu Antonieta de Barros. Menos de 50 anos desde a abolição da escravidão, foi eleita a primeira mulher negra do Brasil no cargo de Deputada Estadual. Antonieta é uma das mais inspiradoras mulheres do século 20, na força e no anseio por liberdade.

Antonieta de Bairros

Mural “Antonieta de Bairros”, feito pelo artista Rodrigo Rizo, estampa o Centro de Florianópolis – Foto: Arquivo/Anderson Coelho

Mesmo passados 120 anos de seu nascimento, a catarinense ainda ocupa o posto de única mulher negra a ter sentado na bancada da Assembléia no Estado de SC. Em um país preconceituoso quanto à cor, classe e gênero, Antonieta, infelizmente, foi a exceção.

Porém, sua história a favor da igualdade por meio da educação marcou a época, servindo de motivação para meninas e mulheres que possuíam o sonho de chegar onde só ela tinha conseguido até o momento.

O nascimento de uma protagonista

Filha de Catarina Waltrich, escravizada liberta, nasceu em Desterro, antigo nome de Florianópolis. Na casa do político Vidal Ramos, onde sua mãe trabalhava, Antonieta teve a possibilidade de se alfabetizar. Aos 16 anos já se preparava para realizar a prova que mudaria a sua vida: a da Escola Normal Catarinense, formação que oportunizaria o sonho do magistério.

“Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços”, a frase dita em um de seus discursos no Congresso contêm a raiz de sua história.

Um ano após a realização da prova, a jovem professora decidiu que levaria a libertação para os que não tiveram a mesma oportunidade que ela. Dessa forma, abriu o curso particular de Alfabetização Antonieta de Barros, com o intuito de combater o analfabetismo de adultos.

Estigmas quebrados

Seu talento nato para o ofício tão desejado rompeu barreiras enraizadas na sociedade catarinense, que tinha em seu imaginário a crença de que o embranquecimento da população era uma das etapas para o desenvolvimento.

Contra as probabilidades, lecionou para a elite florianopolitana nos tradicionais colégios Coração de Jesus, Dias Velho e Catarinense.

Sua luta pela educação fez com que conquistasse as páginas dos jornais da cidade. Além de professora, virou cronista. Em 23 anos de história na imprensa catarinense, escreveu mais de 1000 artigos em oito veículos. Se houvessem barreiras, lá estava Antonieta para ultrapassá-las: não existia outra mulher na mesma posição que ela em Santa Catarina.

Tomando para si as lutas de seu tempo que vivia na pele, escrevia no pseudônimo de Maria da Ilha sobre a condição feminina na sociedade, política, desigualdade e educação. Sempre honesta e empática, desde cedo ocupou uma posição de respeito entre seus colegas por seu espírito de justiça.

No grito de Antonieta, silenciadas e invisíveis as mulheres do início do século 20 viram uma voz de esperança.

“Em Santa Catarina, neste instante, cada mulher deve perguntar-se conscientemente: com quem votarei? Mulheres catarinenses, por vós e para vós, meditai: na chapa do Partido Liberal há um nome feminino que a integra”, Antonieta assim, anunciava a sua candidatura.

Entrada na vida política

Com mais de 35 mil votos, Antonieta de Barros foi eleita a primeira mulher negra brasileira a ocupar o cargo de Deputada Estadual, o qual ainda não teve herdeira de luta. Desde sua vitória, apenas 15 mulheres sentaram na Assembleia de Santa Catarina. Nenhuma negra.

Assim como em todos os outros âmbitos de sua vida, a passagem da professora pela política foi brilhante. Lutou ativamente pela educação e direito das mulheres em SC. Suas contribuições ultrapassaram as barreiras de Santa Catarina e possuem impacto até os dias de hoje.

O Dia do Professor foi criado por ela. Celebrado em território nacional, é muito mais do que uma data comemorativa, mas, sim, resultado da luta e da vida de uma mulher, filha de ex-escravizados, que sonhava com a educação como caminho para o futuro.

Em 12 de outubro de 1948, a então deputada instituiu no dia 15 do mesmo mês o Dia do Professor, para que os educadores passassem a ser vistos na sociedade como um dos principais agentes de mudanças no Brasil. Depois de 20 anos, o Presidente da República na época, João Goulart, estendeu a data para toda a nação.

Legado vivo

Antonieta é a prova de que não é apenas a raiz açoriana que sustenta Florianópolis. A presença negra, de luta pelos seus direitos e representação cultural em toda a trajetória da cidade é notória.

Foi feminista em uma sociedade tradicionalista. Negra e mulher em um espaço carregado de oligarquias e preconceitos. Mestre de centenas de jovens, tanto da elite branca quanto dos marginalizados, em uma terra que não dava espaço para tais feitos.

Seu nome deve ser lembrado por cada mulher que exerce seu direito ao voto e nas disputas por cargos nas eleições. Por cada aluno e professor que celebra o 15 de outubro. Antonieta de Barros foi a mulher que abriu as portas para o início do fim da desigualdade, a qual não conquistamos ainda, mas que com ela temos a esperança de conseguir.

Mês da Diversidade Cultural

Durante todo este mês de novembro, o Educa SC apresenta uma série de conteúdos no canal e no portal para falar sobre a Diversidade Cultural e importância de discussão sobre o assunto nas escolas catarinenses.

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